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quarta-feira, 30 de março de 2011

Memórias de estudante


Eu era da turma 52. O ano era 1984. Andava um pouco solitário, triste. Meus pais recém haviam se separado. Um para cada lado, e eu para lado nenhum. Lembro-me bem que minha calça era de tergal, daquelas azuis feias de uniforme de colégio. Não era muito raro eu andar com ela suja e percebia que algumas colegas faziam comentários maldosos sobre isso. Teve um dia que caí num valo e não pude ir à aula porque ela estava molhada. Tive que ficar embaixo dos cobertores...

Como era bom quando faltava um professor! Fazíamos uma festa! Tinha uma professora que gritou comigo várias vezes, eu odiava a aula dela e por isso não entendia nada da matéria. Uma outra debochou de mim quando eu disse que havia faltado no dia anterior por causa da enchente. Ela devia morar no outro lado da cidade para não saber do que nós sofríamos com as enchentes... Arremangar as calças até os joelhos e pôr os pés na água gelada, no inverno, às sete da manhã para ir pra aula definitivamente não é para qualquer um. Minhas professoras, por muito menos, deixavam de ir para a escola.

Até a quarta série eu era considerado um aluno exemplar, com direito a ler em público nas datas em que o colégio dava um cachorro quente e um copo de “ki-suco”. Não entendia muito o que estava lendo, mas as professoras gostavam. Minhas notas eram altíssimas, porque no colégio eu fugia dos problemas de casa. Nesta época me fizeram odiar o hino. Éramos obrigados a cantar uma coisa que nem entendíamos o que significava. O pior foi quando a diretora me chacoalhou e gritou “canta!”. Obrigavam a gente a marchar da vila até o centro da cidade, como se fôssemos soldadinhos de chumbo. Eu odiava isso.

Na quinta série uma vez levei uma suspensão. Briguei no recreio. Um olho ficou umas três vezes maior que o outro. Assinei o “livro negro”. Depois daquela briga percebi como é estúpido bater em alguém, como é estúpido apanhar também. Que grande bobagem! Minhas notas caíram mais que a confiança do povo nos políticos. Um dia apareceu escrito numa prova: “Você regrediu muito”. Fui direto para o dicionário, não sabia o que era regredir. Já era a segunda vez. Outro dia a professora de Português tinha me dito isso e eu achei graça. Ela ficou brava porque pensou que era deboche, mas eu estava rindo daquela palavra esquisita.

Na sétima série minha turma era a 71. Estudávamos pela manhã. No primeiro e no segundo bimestre não entendi nada do que estava acontecendo. Tirei vários “zero” nas provas. Marquei um encontro com uma menina para o último dia antes das férias de inverno. O nome dela era... bom, creio que não há necessidade de dizer o nome dela, não é? Acontece que no dia choveu. Eu fui até a escola, mas fiquei numa área coberta do lado de fora do portão. Esperei a tarde inteira e ela não apareceu. Meses depois soube que ela também passou a tarde suspirando e me esperando, só que do lado de dentro do portão...

As férias e a preguiça me acostumaram a dormir demais e a ler “de menos”. As aulas recomeçaram e eu não aparecia no colégio. Umas duas semanas depois, foram na minha casa me procurar. Mas não eram daquele colégio e sim do que eu estudava antes (chamado Mário Sperb). A dona Líria, uma orientadora educacional que atendia no SOE, mandou me chamar. Nem quis minhas explicações, foi logo me matriculando numa turma do noturno. Eu tinha treze anos e estava começando a trabalhar, cuidava de um estacionamento de uma farmácia. No ano anterior tinha sido vendedor de picolés.

Os professores e professoras eram diferentes, conversavam com a gente sobre qualquer coisa. Fui muito bem recebido e me aceitaram como eu era. Meus colegas eram mais velhos do que eu, e com eles aprendi a ouvir as pessoas mais velhas que têm muito mais experiência de vida do que a gente... O que fico me perguntando é o que teria acontecido comigo se ninguém tivesse me procurado, me ajudado. Com certeza hoje não seria professor e nem teria o prazer de conhecer as pessoas que agora lêem essas palavras, e que são para mim uma grande família.

Mas que grande falador sou eu. Lembrei de tantas coisas, falei tanto, mas o que eu queria mesmo era dizer pra você: aproveite bem o tempo que você passa aqui. A escola é um lugar onde a nossa vida acontece, onde a gente aprende coisas importantes e conhece pessoas. Meus amigos que abandonaram a escola quando eram adolescentes, hoje se lamentam e se arrependem. Espero que você saiba aproveitar este momento único da vida. O mundo precisa de pessoas que lêem e pensam, porque do jeito que as coisas estão não dá mais.


Elenilton Neukamp

sexta-feira, 25 de março de 2011

O mundo de Sofia

Atendendo os pedidos dos alunos da C33 e C31, o livro "Mundo de Sofia" para ler on line:

Clique aqui para ler!

Mas o livro não é difícil de ser baixado também, é só darem uma procurada.

Abraços!

Atualização: revi agora os links, um livro com o conteúdo completo realmente é difícil de achar! este acima é com o conteúdo revisado, mas tem boa parte do texto. E Éder, tá funcionando normal meu velho, é só clicar e ler - ao menos aqui tá tranquilo. E um toque: nossa biblioteca está com dois exemplares para os alunos.  :p


quarta-feira, 16 de março de 2011

C 20 - Primeiras aulas

As primeiras aulas com as turmas de C20 voltaram a discutir
por que afinal estudamos Filosofia.
Além de tratarmos outras questões (como a tragédia natural e nuclear
no Japão), falamos sobre como serão as aulas em 2011.

Para quem não assistiu à aula ou quer ler mais sobre o que falamos,
aí vai o linck do livro "Convite à Filosofia", da professora Marilena Chauí.
O textinho colocado no quadro é um resumo das páginas 1 a 7.

É só copiar o linck aí embaixo e colar na caixa de endereços lá em cima:


http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/convite.pdf


Boa leitura!


Professor Elenilton

quinta-feira, 10 de março de 2011

Aula inicial do professor Elenilton - roteiro



Na foto: professor Elenilton, professor José Pacheco (um dos fundadores da Escola da Ponte em Portugal) e professor Walter, no Dolores em 2010.





ROTEIRO DA PRIMEIRA AULA:

  1. Apresentação (Professor de Filosofia e Mestre em Educação, escritor, experiência profissional/professor há 15 anos, Poço das Antas, infância, magistério como escolha)

  2. A Filosofia nasce quando os seres humanos começam a tentar entender o mundo, não por meio da religião nem pela aceitação da autoridade, mas pelo uso da razão. Isto começou principalmente entre os gregos antigos, entre os séculos VI e IV a.C. Suas primeiras perguntas foram “De que é feito o mundo?” e “O que sustenta o mundo?”.

Filos= amizade, amor. Sophia= sabedoria.

Há outros usos da palavra filosofia, como “filosofia de vida” ou “filosofia da escola”...mas não dizem respeito ao estudo da Filosofia.



  1. As aulas

Liberdade de pensamento

Caderno: organização/faz parte da avaliação

Textos: exigência na leitura/boa escrita

Apresentação e normas gerais de apresentação de trabalhos

Trabalhos extras: o aluno propõe o trabalho e apresenta

A caixa de perguntas: o diálogo construindo a aula de Filosofia

Filmes

Passeios, laboratório de informática

Fanzines

Papel no chão é crime!

Racismo e homofobia são burrice

Volumômetro

E-mail, orkut


Critérios para avaliação:

  1. Ter condições de participar de um diálogo respeitando a fala do outro.

  2. Compreender minimamente o que estamos estudando, e demonstrar isto.

  3. Conseguir expressar por escrito o que estudamos, entregando os trabalhos.

  4. Cuidado e organização com seu material e respeito pelo grupo.





TRABALHO DE SONDAGEM – FILOSOFIA


  1. Na sua visão, o que é uma boa aula?

  2. O que é um mau professor e o que é um bom professor?

  3. O que mais lhe incomoda na vida? Fale sobre isso.

  4. Que assuntos você acredita que são importantes para estudarmos e discutirmos em aula?

Sugestões e idéias para nossas aulas (tipos de trabalho, organização da turma, etc.).

  1. Se fosse possível resumir a vida em uma frase, que frase seria essa?



Segunda parte (em folha separada).

COMPROMISSO PESSOAL – O que eu me comprometo a fazer em 2011 para que seja um bom ano para mim e para a escola.