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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Consciência Negra - fotos do evento

Para conferir as fotos do evento na escola, vá até o endereço abaixo:

http://www.flickr.com/photos/escoladolores

As fotos são da professora Priscila (prof. de Português da C30 e C16)

sábado, 19 de novembro de 2011

Entrevista com o filósofo Alain de Botton

O filósofo Alain de Botton fala sobre sua nova obra, "Religião para ateus"; leia a entrevista
Débora Rubin








Alain de Botton, 41 anos, suíço que vive na Inglaterra desde os 12 anos, é o filósofo mais pop da atualidade. Versátil, bem articulado e com um requintado senso de humor, ele já escreveu uma dezena de livros sobre os mais variados temas, do amor à arquitetura, incluindo até um sobre aeroportos, encomendado pelo Aeroporto de Heathrow, da Inglaterra. Ele também produz vídeos sobre suas teorias em parceria com redes de TV britânicas. Formado em história e filosofia por Cambridge, Botton é um grande crítico do sistema educacional atual. Para ele, as áreas humanas não tratam os temas que realmente importam, como amor e trabalho. Para ensinar à sua maneira, montou, em Londres, a The School of Life, em 2009.

Botton, que lançou sua nova obra, “Religião para ateus” (Editora Intrínseca), em outubro, está no Brasil para duas apresentações, uma em Porto Alegre, na segunda (21), e outra em São Paulo, na terça (22) (veja programação completa no site do evento Fronteiras do Pensamento. “Era um velho sonho meu visitar o Brasil”, contou em entrevista à ISTOÉ, na qual também falou sobre as angústias da vida moderna e a busca pela felicidade, temas que estão presentes em quase todas suas obras.


Sobre o que é seu novo livro?

É um olhar simpático de um ateu convicto sobre todos os aspectos da religião: arte, comunidade, moralidade e educação.

Você costuma dizer que toda vez que algo dá errado na sua vida, você começa a escrever. O que deu errado dessa vez?

Na verdade, eu escrevi esse meu novo livro a partir de um sentimento de que a sociedade laica tem muito a aprender com a sociedade religiosa, o que não significa ter fé...

Algum dos seus best-sellers surgiu de uma grande decepção?

Meu primeiro livro, “Ensaios de Amor”, surgiu diretamente das complexidades e contradições da minha própria vida amorosa. Muitos dos meus livros, desde então, foram direcionados de acordo com minhas angústias pessoais – eu sou um escritor confessional, que enxerga a escrita como uma forma de terapia, para o leitor e para mim.

Viver em um aeroporto durante uma semana mudou sua forma de ver, e aproveitar, suas viagens?

Sempre amei aeroporto. Para mim, são os centros da vida moderna. Adoro toda a tecnologia que os compõem e todo o drama emocional envolvido.

É um lugar de grandes alegrias ou tensões?

Para mim, quase sempre de alegria. É o começo de uma aventura, de um romance ou de uma nova possibilidade.

Qual é a grande angústia dos nossos tempos?

Há muitos problemas que continuam atormentando o ser humano, mas se eu tivesse que resumir, eu diria que é a limitação dos potenciais: seres humanos são capazes de muito mais do que o mundo pode lhes oferecer. Nós criamos um problema sério ao não explorarmos corretamente todos os nossos recursos. Nossa capacidade de amar, nossa inteligência, criatividade e lógica não estão encontrando fins adequados.

Por que tentamos tanto dar um sentido para nossas vidas?

Todos nós nos sentimos motivados para dar vazão aos nossos talentos e inclinações mais íntimos. É do ser humano o desejo de se auto-expressar, o que se dirige tanto para o amor quanto para o trabalho.

Mas por que temos a sensação de que tudo o que fazemos não é suficiente?

Cada ser humano é imensamente complexo. Sente de maneiras diferentes. É tão rico quanto um Shakespeare em termos de percepções – apenas temos uma enorme dificuldade de colher e explorar esses insights. Minha mais recente percepção é a de que o poder de se expressar não é democraticamente distribuído entre todos. Mas todos temos essa necessidade.

Uma das maneiras de se expressar é pelo trabalho. Por que ser feliz profissionalmente parece tão difícil para a maioria?

O sistema econômico não dá oportunidade para todos realizarem seu potencial – nós ainda não encontramos um jeito de tornar isso possível na prática. É o sonho não realizado do marxismo.

Você se considera realizado com seu trabalho?

Sim, bastante, afinal, é muito difícil escrever livros. Mas quando tudo dá certo, o nível de satisfação salta para ótimo.

Você trabalha muito? Quantas horas por dia?

Eu trabalho o tempo inteiro, estou sempre pensando, tomando notas, planejando. Não acredito em feriados nem em tempo livre porque tenho a sorte de trabalhar com o que me preenche.

Você nunca fica estressado? Você ficou careca precocemente por causa de estresse ou pela genética mesmo?

Nunca ouvi falar que calvície é fruto de muito estresse! Você pode deixar muita gente perturbada com essa estranha teoria...prefiro assumir que isso vem de uma libido vibrante.

O que te faz feliz?

Escrever livros que, acho, não são terríveis, estar com meu amigos e família – ver o pôr do sol, um evento raro na Inglaterra – e tocar bem um negócio.

Perseguir demais a felicidade nos torna infelizes?

Não exatamente. O que nos faz infelizes é não conseguir o que queremos. O que não quer dizer apenas coisas materiais, como a maioria acredita, mas também o perdão, a ternura, o orgasmo e uma porção de outras coisas.

Você acha que vemos o casamento e o trabalho de formas muito românticas? E quando estamos solteiros e desempregados nos tornarmos automaticamente frustrados?

Acho que é natural buscarmos a felicidade no trabalho e no amor. Como disse Freud, são esses os dois ingredientes básicos para a realização pessoal. Não podemos mesmo aceitar resignação nesses dois tópicos – isso explica os divórcios e as revoluções! Nosso espírito é teimoso e gloriosamente otimista.

Você acha que os brasileiros são mais felizes que os demais povos ou apenas fingimos melhor?

Não estou certo, mas posso te dizer após a visita ao seu maravilhoso país. Por hora, acredito que sim, que é um povo genuinamente feliz.

Por que você decidiu criar a The School of Life?

Se você for a qualquer universidade e disser que quer estudar “como viver”, certamente lhe mostrarão a porta de saída. Isso se não te mandarem para um hospício. As universidades veem como trabalho delas treinar uma pessoa para uma carreira específica como direito e medicina, ou dar a ela uma base de “humanidades”, mas que por uma razão não identificável, se resume a passar três anos estudando os clássicos da literatura.

As universidades não preparam as pessoas para a vida?

A universidade contemporânea é uma amálgama desconfortável de ambições, um amontoado de ensinamentos que remetem às escolas filosóficas da Grécia e Roma Antigas, aos monastérios da Idade Média, às escolas teológicas de Paris, Pádua e Bolonha e aos laboratórios de pesquisa da ciência moderna. O grande legado disso é que esses profissionais da área de humanas acabam repetindo os métodos dos colegas de ciências. Ciência faz seu carro funcionar, cura seu fígado, manda espaçonaves para Marte e transforma a luz do sol em eletricidade. Em outras palavras, ciência é valorizada porque nos dá controle sobre nosso destino, e como dizia o poeta W. H. Auden, “poesia não faz nada acontecer”.

O resultado é que as artes são tratadas como ciência exata?

Sim, os acadêmicos nas áreas de artes decidiram que eles também querem ser vistos como pesquisadores e que seu principal valor deve ser o de descobrir novas coisas, como químicos que descobrem estruturas moleculares. Claro que há ocasiões nas quais se fazem grandes descobertas que podem ser comparadas aos achados da ciência, mas atrelar seu valor ao factual e ao verificável pode gerar grandes distorções. Na academia moderna, um historiador da arte, ao ser levado às lágrimas pela ternura e serenidade que ele capta em uma obra de um pintor florentino do século XIV, tipicamente responde as suas emoções escrevendo uma monografia, perfeita, mas sem vitalidade, sobre a história da fabricação de tintas na época de Giotto.

Isso não é reflexo dos valores exigidos no mercado de trabalho, como objetividade e produtividade?

É, afinal, a economia exige trabalhadores preparados para lidar com tarefas administrativas complexas e não para serem grandes pais ou parceiros.

Qual seria a universidade ideal para você?

No cardápio da minha universidade ideal não haveria matérias como filosofia e história. Em vez disso, teria os seguintes cursos: “morte”, “casamento”, “escolhendo uma profissão”, “ambição” e “criação dos filhos”. Esses grandes temas, ao serem abandonados pela academia, ficam relegados aos gurus e palestrantes motivacionais. E foi pensando em tudo isso que eu achei que era o momento certo para reapropriar tais temas e considerá-los com todo o rigor e seriedade normalmente atribuídos a tópicos de pouca relevância.

Como funciona a sua escola?

A ideia principal é oferecer instrução para as grandes questões da vida de forma inteligente, imaginativa, revolucionária e divertida. O aluno pode se inscrever em cursos como política, trabalho, família, amor ou ainda conversar com um terapeuta, aprender como fazer jardinagem na cidade ou participar de uma refeição comunitária com desconhecidos. O espírito da escola é anárquico e ainda assim muito sério em sua essência. Estamos lançando um desafio à educação tradicional e reinventando a forma de se ensinar. Há algumas similaridades com o que tentei fazer em alguns dos meus livros, com a diferença de que na escola nós demonstramos, em vez de simplesmente descrever, as vantagens de ter uma vida analisada.

Pretende abrir filiais?

Tivemos muito sucesso nos primeiros dois anos e meio, o que me diz muito sobre a frustração de muita gente em relação à abordagem pedagógica das universidades tradicionais. Quem sabe não abrimos uma filial no Brasil um dia?

Qual o tipo de público que frequenta a escola?

Todos, do carteiro ao presidente de uma empresa. Da vovó aos adolescentes.

Seu trabalho é 100% mental. Você faz algum exercício para compensar?

Eu brinco muito com meus filhos, dois garotos pequenos: lutamos, construímos coisas, pulamos e dançamos. É uma vida bem ativa.

Você segue algum caminho espiritual?

Não, eu sou comprometido com meu ateísmo. No entanto, como qualquer um, quando eu olho as estrelas, eu sinto comiseração por nossa insignificância e experimento uma certa tranquilidade, harmonia e paz galácticas.

Tem medo da morte?

Pânico! Eu não consigo suportar a ideia de que terei que morrer e que meus entes queridos também. Meu pavor real é morrer antes que meus filhos completem 30 anos.

Você tem grandes arrependimentos?

Me arrependo de não ter estudado para ser um arquiteto. Penso que teria sido muito bom nisso. Também me arrependo de não ter feito mais sexo – eu era tímido e intelectual demais quando eu era jovem.

Qual a coisa mais importante que você ensinou aos seus filhos?

Tento mantê-los otimistas e curiosos sobre a vida. Venho tentando ensiná-los que a vida é algo que vale a pena desfrutar e que se eles se esforçarem, podem fazer qualquer coisa. Isso não é bem verdade, mas você precisa desse tipo de filosofia para seguir adiante.

A vida é uma grande escola? Como podemos aprender com ela?

Estando alerta e vendo cada contratempo e frustração como um grande aprendizado.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A nova moral do funk

A nova moral do funk

Gênero modificou a natureza clandestina da pornografia


Marcia Tiburi

A afirmação adorniana de que após Auschwitz toda cultura é lixo não perde sua atualidade. Se, de um lado, a frase implica que a cultura não vale mais nada, de outro quer dizer que “lixo” é a melhor categoria explicativa da cultura como “aquilo que se rejeita”.

Mas vem significar também que cultura é a experiência do que sobra para os indivíduos levando em conta as condições socioeconômicas e políticas marcadas pela divisão de classes, de trabalho, de sexos, da própria educação dirigida de maneira diferente a pobres e ricos.

A partir da elevação do lixo à categoria de análise, podemos com tranquilidade ecológica (aquela que faz a separação dos descartáveis por categorias) partir para uma brevíssima investigação daquilo que se há de nomear como “moralina funk”, a performance corporal-sonora que se apresenta como o ópio do povo de nosso tempo.

Muito já se escreveu sobre o fenômeno que merece atenção filosófica urgente desde que se tornou a “cultura” que resta para uma grande camada da população de classes menos favorecidas econômica e politicamente.

Muitos afirmam que “o funk carioca também é cultura”, mas pouco comentam sobre seu sentido como capital cultural justamente porque seu único capital implica uma contradição: pobreza material e espiritual. Ou seja, capital nenhum.

Na ausência desse capital sobressai o que resta aos marginalizados. Eles descobriram o valor daquilo mesmo que lhes resta. Eis o capital sexual.

A performance da moralina funk depende desse capital sexual. Explorado, ele é a única mercadoria da consciência e do corpo coisificado. Seu paradoxo é parecer libertário quando, na verdade, é a nova moral.

Pornografia moralizante

Produto dos mais interessantes da sempre moralizante indústria cultural da pornografia, a esperteza do funk carioca é transformar em regra aquilo que foi, de modo irretocável, chamado por seus adeptos pela categoria do “proibidão”. A versão da coisa que não é para todo mundo.

A fórmula do funk é tão imbatível quanto a lei do estupro das histórias do Marquês de Sade. É o barulho como poder, ou melhor, violência. Nenhum ouvido escapa da moralina funk na forma de disfarçadas ladainhas em que as mesmas velhas “verdades” sexistas se expoem, como não poderia deixar de ser, pornograficamente.

A economia do proibidão

Mandamento sagrado da performance é que ninguém ouse imputar marasmo ao tão cultuado quanto profanado Deus Sexo.

Não existe uso da pornografia autorizado, pois a regra de sua moral é a clandestinidade. Daí a função do proibidão na economia política do funk. A história da pornografia oscila entre ser o outro lado da lei e ser apenas outra lei.

Foi isso que fez seu sucesso político em sociedades autoritárias contra o princípio publicitário que lhe deu origem. É o que está dado em sua letra: porno (prostituta) e grafia (escrita) definem, na origem, a mulher que pode ser vendida. E que, para ser vendida, precisa ser exposta.

A pornografia é, assim, uma espécie de exposição gráfica da mercadoria humana. Não é errado dizer que a lógica que transforma tudo em mercadoria tem seu cerne na “prostitutabilidade” de todas as coisas. Nada mais simples de entender em um mundo de pessoas confundidas com coisas.

Que a pornografia esteja ao alcance dos olhos, dos ouvidos, de todos os sentidos, exposta em todos os lugares, significa apenas que a regra do ocultamento foi transgredida. Mas implica também sua efetivação como publicidade universal. Isso explica por que ela não choca mais.

Na performance do funk carioca ela é altamente aceita em escala social. Seja pela pulsão, seja pela acomodação, se o imoral torna-se suportável é porque ele tomou o lugar da moral. É a nova moral.

A pornografia de nossos dias é tão bárbara quanto a romana pornocracia, com a diferença de que não temos mais nada que se possa chamar de política em um mundo comandado por regras meramente econômicas.

Daí que todo funkeiro ou seu empresário saibam que seu negócio é bom pra todo mundo.


Texto publicado em http://revistacult.uol.com.br/home/2011/11/moral-funk/

domingo, 6 de novembro de 2011

Bocas de Ceniza


Bocas de ceniza - Juan Manuel Echavarría from Otro on Vimeo.


"Bocas de ceniza, de Juan Manuel Echavarría, consiste em uma série de oito vídeos em que diferentes pessoas cantam a capella sua tragédia pessoal. Todos esses homens e mulheres são vítimas da violência e do deslocamento forçado como resultado da guerra interna na Colômbia, que dura já meio século e envolve a guerrilha, o exército e os paramilitares. Nas últimas décadas, essa interminável luta pelo controle do território tem sido financiada pelo dinheiro das drogas; e sua vítima principal é a população civil desarmada. Os cantos pessoais em Bocas de ceniza podem ser vistos como micro-histórias dos esquecidos, que contradizem a história triunfalista expressa nos hinos nacionais."


Em: http://www.bienalmercosul.art.br/artista/239